sábado, 1 de novembro de 2008

fiz/faço

Persegui templos, pra me encaixar onde não deveria.
Procurei todo argumento, encontrei mãos quase sempre vazias.
Segui caminhos tortos, gastos, desajustados.
Tropecei em laços desamarrados, fracos e inacabados.
Achei que alguém completasse ou que uma hora bastasse.
Afinal o fim era sempre feliz, que chegasse.
Andei sentindo de ódio a amor, sobrou a razão.
Diz-se haver mais que paredes, que tetos, que janelas, que chão.
Não os descobri... até então.


:)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Re-ação

Aquela imagem nunca saiu da minha cabeça. Um menino sorridente, de seus quase seis anos, com o queixo encostado na janela aberta do carro.Bastou o “Tio, o senhor tem dez centavos?” para desestruturar qualquer um.Me senti ficando com cara de boba enquanto admirava o menino.Tentei entender algo sobre ele, olhei como estava vestido, quem o acompanhava, se levava algo nas mãos.Mais a frente, vi uma moça com uma criança no colo.Provavelmente era a mãe do garotinho que ainda me olhava naquele momento , esperando minha reação.Além de dizer o quanto ele era uma gracinha, o máximo que consegui foi estender umas moedas.Depois da minha ‘gentileza’, ainda o olhei correr e entregar as moedas para a moça, felicíssimo. Virei pra frente e outros pensamentos invadiram minha cabeça, mas até hoje, sempre que escuto a palavra ‘ desigualdade’ lembro do menino.Penso em mim com a idade dele, penso em como os meus filhos talvez pudessem ser tão diferentes dele, mas penso principalmente no pouco que eu fiz e faço por meninos como ele.A sensação de impotência me invade às vezes, e a de comodismo acaba a acompanhando.Não sei se fecho os olhos ou se os abro de vez, tornando muitas das coisas que pra mim eram importantes, em totalmente inúteis e sem sentido.Valeria a pena?

sábado, 27 de setembro de 2008

Pote?

Tantas vezes tentei reviver o que passou.Quis fechar os olhos e sentir o gosto, o cheiro, o frio.Quis abrí-los e ver a paisagem.Imaginei...se tudo coubesse em um pote? Dentro do pote: a música, a letra, a dança,a imagem, o sorriso, a dúvida e o que faz ter e fazer o bem.Tinha que caber os momentos que a gente não suportaria perder..são tantos.Que caiba toda dor (esta pela certeza de ficar ali, presa), que caiba as pessoas que eu nunca vou deixar de amar.
Depois abriria quando eu quisesse, onde quisesse e se eu quisesse.Por fim, eu nunca tive o pote em minhas mãos.Então, fechei os olhos...respirei. Tá ali, guardado.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

D.ela

Sempre a vi livre.Nunca dentro de um carro,nunca atrás de um portão, nunca de mãos dadas com alguém.Tudo que presenciava, se tornava nitidamente mais suave.O chão encaixava seus pés e o ar queria conduzir o movimento quase hipnotizante dos cabelos. Ia e vinha, mas parecia nunca sair do lugar.Tudo fazia questão de se adequar àquele ritmo inconstante .E podia ser música...paisagem, letra.Mas era ela, cabia nela, tudo aquilo?Ah, sempre foi dela.

sábado, 30 de agosto de 2008

Sobre problemas e visões

Uma dor de dente pode ser um problema.Um engarrafamento pode ser um problema.Calo, resfriado, atraso... tudo isso pode tirar do sério.
Ainda assim, no meio de uma rotina problemática e conturbada, sobraria algum tempo pra refletir sobre a real dimensão dos nossos percalços e o tamanho da importância que competimos a eles.Talvez a incapacidade de lidar com o que há de errado é que nos faz perder o controle da situação.Ou talvez, ‘’mediocridade’’ é o verdadeiro nome do que torna pouca coisa em grandes obstáculos assustadores.
Enquanto dois espirros nos prendem em casa, dificuldades muito maiores não impedem muita gente de continuar a trabalhar, estudar, caminhar..Enquanto um contratempo qualquer pode te tirar o sono, não ter um lugar seguro onde deitar é o único motivo pelo qual muitos deixam de dormir.As vezes, só as vezes, compara a sua vida com a de quem nem sequer ousa se comparar a você.Vistos de longe seus problemas ficam menores.Quem sabe até aceitáveis?
Não é extremismo, leve simpatia ao socialismo ou algo do tipo.São duas mãos puxando seus calcanhares e tentando fazer com que seus pés alcancem o chão.Ainda tem conserto.

domingo, 24 de agosto de 2008

Texto?

Um texto pode ser visto como algo completamente simples. São letras, sílabas, palavras, frases, parágrafos. Mais ou menos parecido com a formação de uma casa: tijolos, muros, paredes. O cimento como elemento principal dessa construção, em muito se assemelha ao essencial de um texto: as idéias, a criação.Sem ele, não há como formar a arte final, nem sustentá-la.
Estar habilitado a escrever, não necessariamente habilita a ser um escritor.Um escritor traz o papel de fazer o leitor se envolver, sentir, participar e estar totalmente entregue a leitura.Lista de compras, avisos em papel-destaque ou um formulário preenchido não bastam.
Assisti um filme um dia desses, e adorei. Em ‘ De encontro com o amor’, um jornalista é escolhido para escrever sobre a vida de um renomado e conturbado escritor. Este, tenta fazer com que o rapaz descubra um pouco mais sobre a arte com a qual ele gastou toda a vida, e pede para que descreva em palavras a dor de um soco no estômago.O jornalista o faz sem cerimônias.Não satisfeito, o escritor lhe dá o soco no estômago e pede para que descreva a dor outra vez.'Agora, sua descrição será brilhante' diz ,deixando o jornalista no mínimo abismado.A cena mostra como as experiências podem contribuir para a autenticidade de uma mensagem a ser passada, tornando-a mais verdadeira, mais clara e mais intensa.
Não sei se tenho pretensões escritoras, nem se o que sinto conseguiria ser perfeitamente passado para quem lê o que escrevo.É difícil, e é realmente mais complexo do que qualquer um pode imaginar.Mas disso tenho certeza: 'não me contento com lista de compras, avisos em papel-destaque ou um formulário a preencher..'